22 de março de 2011

Gaveta Trancada

''Fui afastando essas gentes assim menores, e não ficaram muitas outras.''
                                                                                           (Caio Fernando Abreu)


Atire a primeira pedra quem nunca sofreu uma decepção dolorosa. Eu, que não atiro.
Ninguém vem ao mundo pra ter tudo e ser sempre feliz, e é sempre sofrendo que descobrimos o quanto nos iludimos ao criar tanta expectativa. Um sonho inventado, nada é do jeito que parece ser.
Já sofri desenganos e fui acordada para realidades que não me agradavam muitas vezes. São planos que eu fiz, e você faz também, que não deram certo, e até aí tudo bem, cabeça erguida. Mas não tem decepção maior nessa vida que descobrir que esse tempo todo você trilhou esse caminho tortuoso só, ludibriado com a ideia que todo mundo te apoia a todo custo. Mentira, mentira suja.
Não sou eu a primeira grande ingênua desse mundo que acha mesmo que algumas coisas são eternas e que o ''tô aqui pra tudo'' é sincero. Amor e amizade, por exemplo, a gente nunca quer que acabe bruscamente. E, francamente, nem sei porque nós, seres sensíveis e de alma, nos sujeitamos a tamanha humilhação. Tentamos manter tudo como era, abrimos nossos corações. Mas é pra quem não merece, quem deixará de estar ao nosso lado sem qualquer explicação.
Alguém me disse que quem foge assim não tem maturidade. Pode ser. O que eu acho realmente? Que são seres que não sabem lidar com o mundo como ele é realmente. É triste, é sofrido, cheio de trairagens. Não é o universo adolescente do colegial, onde sua maior preocupação é como gastar a mesada. Alguns de nós somos violentamente roubados desse universo à força e empurrados em um mundo cheio de responsabilidades e preocupações, sendo obrigados a amadurecer cedo demais. E aí o que acontece? Você está condenado a ser para sempre um jovem velho, e não combina um jovem velho andar com a moçadinha alegre. São mentes divergentes. Não há como voltar a mundo tão preso a superficialidades da juventude quando se passa por uma experiência adulta.
É nessas horas que a decepção bate. Putz, como eu estava enganada! Hoje tudo seria diferente conforme minhas expectativas há 6 meses atrás. Agora, nem sei mais se gostaria que fosse diferente. Talvez esteja bom assim. Tudo muda e a memória é frágil. Posso até reinventá-la se o quiser fazer.

Assim, deixo trancadas em gavetas as lembranças que eu gostaria que estivessem expostas em porta-retratos. Por enquanto, sem intenção de tirá-las de lá. Entendam que isso não se chama orgulho. Se chama cansei de ser a única a se importar.


Não que não faça mais sentido
só resolvi deixar pra lá
Algumas cartas, amigos perdidos
e alguns olhares que não vão voltar.

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2 de março de 2011

Sufoco

Desculpe-me pelo que vou falar, mas é necessário. E os motivos de eu estar o fazendo por aqui são dois: o primeiro porque sempre me dei melhor com palavras escritas e não ditas; o segundo, porque você nunca esteve disposto a me ouvir realmente, talvez só se interesse pelos meus pensamentos às escondidas, quando vem espiar o que escrevo.
As coisas chegam a um ponto em que fica difícil suportar. 
E quer saber? Eu choro tanto. Não consigo conter as lágrimas quando recordo dos tempos em que não era assim. Sabe, eu andei vendo fotos nossas, eu vi o amor em seus olhos. Lembrei-me das coisas que me ensinou, na tua forma tão excêntrica. Então, me perguntei: onde foram parar esses momentos cheios de afeto, onde foi que erramos? Fui eu ou você? Ou será que foram ambos?
Fui eu quem errou ao não saber dizer o tempo todo que te amava? Foi você que não soube dizer também?
Fui eu quem errou ao me rebelar tantas vezes por não aceitar que minha vida fosse manipulada? Ou foi você que errou muito ao pensar que pode planejar a vida alheia conforme os teus interesses?
Eu sinto muito que tenha chego a esse ponto. Eu te amo tanto. Mas acho que não gosto do seu jeito de amar. Você ama estranho. Parece que não ama. Parece que eu incomodo, que eu te decepcionei sem saber.

Eu já disse uma vez e repito: você está me sufocando, não permitindo que eu siga meus próprios passos por medo de perder o controle de tudo, por medo de que isso te implique alguns $acrifícios. Deixe-me seguir em frente, não estrague tudo antes que seja tarde demais. Antes que a única solução para tudo isso seja deixar você, nós, para lá.

9 de fevereiro de 2011

Strawberry fields

Não, o dia não está feio. Ninguém morreu. Não estou doente. O céu ta azul e o mar ta lindo. E ainda assim, o coração insiste em dizer que tudo está errado.
Que dor é essa que queima meu peito e tira as cores da minha vista?
Esse nó na garganta que impede o ar de encher meus pulmões...
Continuo sentada, esperando que alguma coisa mude enquanto a vida acontece lá fora e se torna cada vez mais difícil ser alguém.
E não há quem - ainda que cheio de vontade - que cale o meu soluço. 
Ou tem. Deve ser isso que dói.




Dor de ausência, de falta, de pedir colo.
Dor que consome quem sou, tira a fome e o sono e umedece os olhos.
Eu tanto sonho em ir pra qualquer outro lugar, te levar pra onde ninguém possa me privar do seu coração e onde nenhuma preocupação possa sufocar nosso riso.
Deixem-me ir até você...


''Let me take you down
'cause I´m going to Strawberry Fields
nothing is real
and there's nothing to get hung about
Strawberry Fields forever ''





8 de fevereiro de 2011

Um Lar


Vista para o mar, entes queridos, sorvete fim de tarde, água cristalina, ver o pôr-do-sol da varanda ou da piscina. Cheiro de café, ensaios musicais, fazer artesanato, dar voltas na orla, pescar, ler o livro preferido, ouvir a chuva, tirar fotos ensaiadas e brincar de ser feliz.


Não. É mais.
Dividir meu café e o violão, cantarolar quando chove, contar o final do livro, passear toda tarde, o sol se pondo e assistindo a nós. Brevemente, ser feliz.
Um lar. Dormir tranquilamente, sorrir exageradamente, sinceridade sem medo, alento e sossego. Paz sem culpa, tristeza sem volta, abraço apertado, amor sem medidas.


O meu, seu coração.

7 de janeiro de 2011

Cedo demais

Houve uma época em que a sensação de fugacidade do tempo me trazia angústia. E nessa época a indiferença entre viver e não viver acabava com minha vontade de levantar da cama. Então a realidade tomou conta dos meus sonhos também, e tudo se perdeu. E eu achava que nada no mundo poderia ocupar o enorme vazio que eu carregava, aqui dentro, em silêncio. Bem, eu estava errada. 
Foi no verão de 2009 que as coisas começaram a mudar no meu coração. Eu, me julgando tão só, me vi diante de algo que precisava de minha atenção, meu amor ou  somente de alimento. Eu dei tudo, e como agradecimento não recebi apenas o carinho de quem está grato, mas de quem vive apenas para me trazer alegria.  Fizemos um acordo sincero: eu dava atenção e em troca recebia um motivo para continuar sorrindo. 
Eu tinha quem me observasse com cuidado quando distraída, quem fizesse gracinhas quando eu estava de mau-humor ou simplesmente se deitasse ao meu lado enquanto chorava baixinho, um calorzinho a mais aos meus pés nas noites frias, uma companhia que disputava atenção com meus cadernos e livros nas vésperas de provas.
Dois anos cativando e sendo cativada. Os problemas não evaporaram. Aprendi, entretanto, a encontrar felicidade. A minha eu tinha, em parte, bem ao meu lado. E me fazia rir por coisas tão bobas que eu me pegava perguntando pra quê insistir na tristeza, se meu humor melhorava instantaneamente.




A saudade que eu sinto é dessa cura para o meu coração.
Embora eu tenha aprendido a ser feliz com a simplicidade,
o tempo continua fugaz.
E fica o vazio 
de quem se despede cedo demais.






À todos que encontraram a felicidade em algo simples - ou alguém- e fizeram disso um novo motivo para continuar. E à todos que sentem falta disso.

26 de novembro de 2010

E agora?

Aí você pega todos os seus planos, esperanças, algumas saudades e até medos
guarda tudo em uma caixinha e diz para si mesmo: 
''Espera só mais um pouquinho. Espera porque tudo tem seu tempo.''




Mas o coração, ah! Não precisa mais esperar.

18 de novembro de 2010

15 dias

Para ler ouvindo 




Esse é o tempo que me resta pra reclamar todos meus problemas, pois depois não haverá nada nesse mundo que aborreça. Em 360 horas preciso chorar todas as minhas tristezas, porque logo não haverá mais espaço para elas.
Meus braços mal podem esperar para envolverem-se em outros braços; meus olhos para mergulharem em outros olhos; meus lábios para tocarem mais uma vez os únicos lábios que gosto de sentir.  
E meu coração anseia para que os próximos 21600 minutos sejam os mais breves possíveis, para então sossegar e cessar o chorinho baixo antes de dormir. 
Cessar de uma vez por todas as 7 letras que, se por um lado angustiam, por outro fazem com que me sinta plena, porque encontrei o que eu queria. 
15 dias e uma palavra que significam o mesmo se penso em você: Saudade.


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